Uma planta ainda pouco conhecida começa a ganhar espaço no estado, com promessas de bons resultados: a carinata. Pertencente à família das Brassicaceae – a mesma da canola e da mostarda –, é bastante adaptada ao clima do Sul e vem se destacando como uma alternativa viável para a entressafra da soja, oferecendo vantagens agronômicas, ambientais e econômicas ao agro gaúcho.
Regiões e área cultivada
A carinata está sendo cultivada principalmente nas regiões das Missões, Campanha e Noroeste do Rio Grande do Sul. A área plantada no Estado dobrou de 5 mil hectares, em 2024, para 10 mil hectares, em 2025, com previsão de alcançar cerca de 50 mil hectares em todo o Brasil – grande parte concentrada no Sul, especialmente no RS, que reúne condições ideais para o avanço da cultura como ferramenta para uma agricultura mais resiliente.
Potencial e vantagens
Cultivada no outono/inverno, a espécie apresenta alta produção de biomassa, contribui para a retenção de umidade no solo, combate plantas daninhas e protege contra a erosão. Além disso, gera renda– um conjunto de benefícios cada vez mais valorizado em um cenário de instabilidades climáticas. Seu principal diferencial está na produção de sementes com alto teor de óleo, matéria-prima para o biodiesel de aviação, um dos setores mais promissores da transição energética global.
Biodiesel de aviação (SAF)
As sementes de carinata produzem até 40% de um óleo especial, de alta qualidade para o refino hidrotratado. Esse óleo é utilizado na fabricação do biodiesel de aviação, também conhecido como SAF (Sustainable Aviation Fuel), um combustível mais limpo e sustentável. O SAF produzido com carinata pode reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa, quando comparado ao combustível fóssil – uma redução essencial para o setor aéreo, que busca a descarbonização até 2050.
Mercado e comercialização
Empresas como a Nuseed e Celena Alimentos estão adquirindo a produção diretamente dos agricultores, com contratos garantidos para uso em biocombustível de aviação (SAF), destinado à exportação para países como França e Bélgica. Para muitos produtores, a carinata surge como uma alternativa interessante ao trigo ou à aveia, especialmente em anos de preços baixos ou dificuldades de comercialização dessas culturas.
Desafios no RS
Apesar de estar ganhando espaço e demonstrar potencial para impulsionar a produção sustentável no campo, a carinata ainda é uma cultura pouco conhecida, exigindo capacitação técnica e ajustes no manejo. Ela é exigente em fósforo e enxofre, o que demanda um planejamento cuidadoso da fertilidade do solo. A carinata não substitui o trigo ou outras culturas consolidadas, mas se posiciona como uma opção complementar, alinhada às demandas do agro moderno e às exigências do mercado internacional por cadeias produtivas de baixo carbono.
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